Casa Olidouro

Embora os centros históricos sejam a face mais visível das intervenções de reabilitação e reutilização, este tema encontra terreno igualmente fértil nas vastas periferias do século XX que rodeiam as nossas principais cidades.

Ao longo dos últimos 50 anos, o crescimento urbano diluiu as fronteiras entre o rural e o urbano, tornando a distinção praticamente irrelevante. As casas presentes nestes territórios refletem essa condição híbrida: antigos terrenos rurais ocupados por “armazéns” que, com o tempo, foram convertidos em habitações — muitas vezes através da adição de um piso sobre o espaço logístico do rés-do-chão. À medida que aumentaram as exigências de conforto contemporâneo, estes edifícios foram recebendo melhorias sucessivas e o rés-do-chão, antes reservado a usos agrícolas ou de armazenamento, passou gradualmente a ser vivido como espaço doméstico.

Grande parte destes processos decorreu sem intervenção de projetistas, resultando em edifícios que podem ser peculiares, inventivos e, por vezes, surpreendentes na forma como combinam intuições vernaculares com ambições modernas.
A Oitoo foi convidada a reabilitar uma casa que se insere precisamente neste universo. O pedido inicial — melhorar o conforto térmico e a eficiência energética — rapidamente evoluiu para uma revisão mais ampla da estrutura existente. Tornaram-se evidentes alguns problemas estratégicos: o rés-do-chão, originalmente uma garagem ampla, transformara-se numa zona social com pé-direito insuficiente e uma organização dispersa; a fachada posterior tinha pouca relação com um generoso logradouro; e o próprio logradouro acumulava construções incoerentes.

O novo programa pedia espaços capazes de acolher grandes reuniões familiares. A proposta reorganiza a casa em torno de uma área social contínua e de um novo jardim de inverno de dupla altura voltado para o logradouro, invertendo assim a hierarquia entre “frente” e “traseiras”. A conveniência e a vida familiar passam a ter prioridade sobre a lógica anterior de representação pública, com o logradouro a assumir-se como o verdadeiro centro da vida doméstica.
Este jardim de inverno é o elemento-chave da intervenção. Afirma o logradouro como a principal fachada da casa — um espaço intermédio que articula o rés-do-chão, o piso superior e o jardim, contribuindo simultaneamente para o comportamento ambiental passivo de toda a habitação.
Ano
2019 – 2021
Localização
oliveira do douro / portugal
Tipologia
residencial, reuso adaptativo
Estado
construído
Área
300 (área construída) / 1000 (área do lote) m2
Cliente
privado
Créditos fotográficos
attílio fiumarella