casa no rés do chão

Longe do centro histórico do Porto — onde os pisos térreos mantêm a função comercial — revela-se outra realidade: montras vazias, lojas encerradas e placas de “vende-se”. O problema não está na localização ou na tipologia, mas nos nossos hábitos contemporâneos: uma cidade centrada no automóvel, na conveniência e nas compras concentradas, muitas vezes à custa da vitalidade dos bairros.

A oitoo foi convidada a transformar um desses espaços subutilizados — um antigo armazém com frente de rua e logradouro — num projeto habitacional. Apesar do estado degradado, o espaço apresentava grande potencial: áreas amplas, planta aberta, pé-direito elevado e um logradouro pronto a ser reinventado.

O resultado é uma habitação passiva de quatro quartos, que recorre à ventilação cruzada e ao aquecimento por piso radiante para conforto e eficiência. O projeto explora temas de arquitetura de interiores: mediação entre público e privado, organização do espaço doméstico, gestão da luz, escolha de materiais e aproveitamento do pé-direito para criar uma verdadeira “topografia interior”.

O logradouro, repensado como “sala exterior”, prolonga a habitação e reconecta a casa à cidade. A execução de carpintarias, caixilharias e serralharias à medida, realizada por artesãos locais, reforça a relação com o contexto. A intervenção mostra como pisos térreos esquecidos podem tornar-se espaços domésticos generosos e bem concebidos, devolvendo vitalidade à vida urbana contemporânea.
Ano
2019 – 2021
Localização
porto / portugal
Tipologia
residencial , reuso adaptativo
Estado
construído
Área
190 (área de construção) / 340 (área do lote) m2
Cliente
privado
Créditos fotograficos
attílio fiumarella