carpet

Mês da arquitectura da Maia 2023: Caminhar é a forma original de perceber a paisagem. Através da experiência direta, construímos a nossa própria imagem e consciência do ambiente que nos rodeia. Nos últimos cinquenta anos, no entanto, o ato de caminhar tem perdido o seu apelo—tornando-se um momento de lazer ou uma contingência indesejada. Deslocações essenciais, como de casa para o trabalho ou de casa para a escola, foram, em grande parte, substituídas pelo automóvel particular, transformando a nossa relação com o contexto físico e social numa experiência indireta.

Como consequência, o planeamento urbano adaptou-se ao automóvel, moldando as nossas cidades. No equilíbrio entre peões e carros, as máquinas dominam, e as pessoas—como caminhantes, transeuntes, pedestres—passaram de protagonistas a subalternos.
Hoje, as cidades esforçam-se por corrigir este desequilíbrio. Surgem ciclovias, caminhos pedonais, eco-trilhas e passadiços—mas, ainda assim, ir de casa para a escola pode continuar a ser um verdadeiro percurso de obstáculos.

CARPET captura esta realidade contemporânea numa representação abstracta e miniaturizada, obrigando-nos a medir os nossos movimentos em relação ao carro. Não há espaço para erros, tal como ao atravessar a rua. Ao mesmo tempo, CARPET oferece uma experiência invertida, onde os humanos prevalecem e o carro miniaturizado deixa de ser ameaçador, adquirindo novos significados.

O tapete de carrinhos reflete a presença esmagadora dos “objetos individuais” no espaço público, cada um ocupando 12,5 m². Esta predominância limita encontros, socialização, jogos e lazer. Para além do debate tecnológico—motor de combustão ou baterias de lítio—a produção massiva de automóveis consome recursos finitos e tem consequências ambientais significativas. A eletrificação não redefine a mobilidade; prolonga o status quo.

CARPET convida-nos a refletir sobre o impacto cumulativo da mobilidade individual no espaço público. Passo a passo, questiona-nos sobre as consequências das nossas escolhas, o conflito entre conveniência pessoal e vida urbana coletiva. Recorda-nos que a sociedade normalizou a presença do carro à custa da qualidade de vida, da proximidade e da liberdade no espaço público.

A imagem lúdica de CARPET—um tapete tecido com mais de 500 carrinhos de brinquedo—é simultaneamente uma homenagem à imaginação e ao jogo, e um apelo à responsabilidade, incentivando-nos a repensar a forma como habitamos e partilhamos as nossas cidades.
Ano
2023
Localização
maia / portugal
Tipologia
instalação
Cliente
publico / município da maia
Créditos fotográficos
ivo tavares studio