aliança casa / atelier
A oitoo encontrou um terreno promissor: um generoso logradouro nas traseiras e os vestígios de uma reabilitação falhada. Nos últimos anos, muitos centros históricos sofreram intervenções apressadas, e é provável que os arquitetos venham a ser chamados a intervir, novamente, sobre essas “reabilitações” recentes. Este projeto é precisamente um desses casos.
Num edifício do século XIX, uma ampliação para apartamentos turísticos ficara inacabada. Durante cinco anos, a obra semi-construída assim permaneceu: um ente estranho num estado suspenso entre a ruína e obra nova.
Apesar disso, o lugar deixava entrever um potencial notável: a escala generosa, a raridade de três fachadas num tecido urbano contínuo, a possibilidade de um jardim amplo nas traseiras, e a oportunidade de repensar uma estrutura já parcialmente erguida — mantendo o que valesse a pena preservar.
O novo programa propunha um desafio estimulante: integrar o quotidiano familiar e a prática criativa num mesmo edifício, criando espaços autónomos mas complementares, capazes de coexistir em harmonia.
A proposta da oitoo procura restituir unidade e coerência à estrutura existente, transformando a heterogeneidade em continuidade. O edifício renasce como uma presença discreta mas distinta, respeitosa do contexto urbano, e ao mesmo tempo singular — uma resposta sensível a um problema que marca muitos centros históricos contemporâneos.
Demolições cirúrgicas reduzem os excessos da ampliação anterior, enquanto se mantêm as robustas paredes de pedra e parte significativa da estrutura de betão já construída. O gesto arquitetónico é, aqui, o de reconciliação: integrar o antigo e o novo, o inacabado e o desejado, num todo coerente e habitável.
No rés-do-chão, os espaços de trabalho e atelier abrem-se à rua, num diálogo mais público. No primeiro piso, a ampla sala de estar — com vista para o jardim — funciona como uma charneira entre o trabalho, em baixo, e a intimidade dos quartos, no piso superior.
O projeto afirma ainda um compromisso claro com a sustentabilidade: reutilização de estruturas existentes, ventilação natural cruzada, isolamento e pavimentos com materiais de origem natural, detalhes construtivo honestos e despojados, e sistemas eficientes de captação e reaproveitamento de energia e água.
No conjunto, a Casa / Atelier é mais do que uma reabilitação — é um exercício de continuidade e adaptação, onde o tempo, a matéria e o uso encontram uma nova forma de coexistir.
- Ano
- 2021 – 2024
- Localização
- porto / portugal
- Tipologia
- residencial / reuso adaptativo
- Estado
- construído
- Área
- 310 (área bruta de construção) / 491 (área do lote) m2
- Cliente
- privado
- Créditos fotográficos
- attílio fiumarella