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As cidades estão em constante e imprevisível transformação.
Tudo o que é construído — fruto de ambições privadas ou necessidades colectivas — sofre, ao longo dos anos, alterações de uso e função, seguido muitas vezes por abandono e degradação. Cada cidadão influencia esta mudança: famílias que chegam ou partem, novos negócios, autoridades ou investimentos. Novos protagonistas e ideias surgem, moldando o tecido urbano, mas muitas vezes absorvemos estas transformações sem perceber o seu impacto no quotidiano.

O potencial do que nos rodeia vai além do seu uso inicial. Bairros operários degradados podem tornar-se incubadoras de artistas e, mais tarde, zonas desejáveis para novos públicos. Onde muitos veem obsolescência, alguns reconhecem qualidades latentes. Com o tempo, negócios e investimento económico reconfiguram as dinâmicas sociais do território. Não somos meros espectadores: podemos intervir, perceber problemas e descobrir chaves da mudança urbana. Habitar o rés-do-chão pode ser uma dessas chaves para uma renovação urbana transformadora.

O projecto Reground Porto explorou esta ideia num bairro do norte do Porto. O foco foram rés-do-chão vazios — originalmente lojas ou armazéns — com frente para a rua e pátio nas traseiras. Estes espaços oferecem áreas generosas, plantas abertas, pé-direito alto e pátios com potencial, permitindo criar habitação acessível e de qualidade no centro da cidade.

Estes espaços convidam a uma reflexão sobre os seus desafios e oportunidades: a mediação entre espaço público e privado, organização interna, iluminação, materiais, uso criativo do volume e reinvenção de pátios como extensões da casa.

O objectivo é revelar a oportunidade destes espaços, muitas vezes subestimados, e fomentar o debate público, mostrando que a vida urbana e o uso dos rés-do-chão dependem da criatividade e da cidadania informada.

A cidade só se reativa quando olhamos para o que existe com um olhar positivo, reconhecedor das oportunidades latentes, densificando, habitando e construindo dentro do construído. O projecto demonstra que a regeneração urbana sustentável começa pelo quotidiano, pelo olhar atento de quem nela vive e caminha todos os dias.
Ano
2018_2021
Localização
porto / portugal
Tipologia
investigação / académico