oitoo's walks

“Ninguém pode descobrir o que funcionará nas nossas cidades olhando para cidades-jardim suburbanas, manipulando maquetes ou inventando cidades de sonho. É preciso sair e caminhar.”
— Jane Jacobs, Downtown is for People (Fortune Classic, 1958)

Como defende Jane Jacobs no seu livro seminal The Death and Life of Great American Cities (1961), vários fatores criam as condições para uma cidade “saudável”: uma adequada mistura de funções nos bairros; atenção a edifícios e espaços públicos vagos; diversidade de atividades comerciais; densidade populacional; e, acima de tudo, o envolvimento ativo dos residentes na vida pública — o exercício da cidadania.

Jacobs acreditava firmemente que as cidades devem criar condições para que as pessoas possam desenvolver pequenos projetos e iniciativas, individualmente ou em conjunto. A ruptura das relações de bairro compromete a criação de uma plataforma pública duradoura capaz de apoiar estas iniciativas. Embora de pequena escala, são fundamentais para a saúde e coesão das comunidades. Funcionam como um ecossistema: cada indivíduo está ligado ao próximo através de uma rede tangível e complexa, impossível de reduzir a números ou estatísticas. Só através da observação direta é possível compreender esta complexidade.

Seguindo esta filosofia, a oitoo, com o apoio da Ordem dos Arquitetos (OASRN), organizou uma série de caminhadas nos bairros do nordeste do Porto: oitoo’s walks.

Durante estas caminhadas, os participantes são convidados a observar a cidade de forma atenta, reparando nos aspetos aparentemente banais da vida urbana quotidiana. O objetivo é promover a reconstrução dos laços de bairro e do sentido de cidadania, demonstrando que compreender e revitalizar uma cidade pode começar simplesmente por caminhar e observar. Com o auxílio do olhar experiente dos organizadores, é possível descobrir oportunidades escondidas em cantos muitas vezes esquecidos do tecido urbano.

Estas caminhadas têm ainda uma função prática: servem de base para a criação de um mapeamento crítico da cidade, identificando necessidades e oportunidades. Ao focar-se no que já existe — estruturas, espaços e redes — revela-se um potencial que só precisa de um pequeno impulso para se tornar ativo, útil e vibrante novamente.
Ano
2018
Localização
porto / portugal
Tipologia
intervenção urbana
Apoio
OASRN